"Não era ruim vê-lo ali e ouvir seu respirar próximo a ela, ver o sobe e desce do seu peito varonil que difundia o olor do mais austero desejo impudico, sem mais eufemismos. Não era ruim compartilharem a mesma cama e permanecerem se admirando por incansáveis intantes, olhos nos olhos e não ponderarem nada. Não era ruim chegar a casa e poder cair no sono ambicionando pele na pele, tudo-nada e mais; dormir com o aroma do seu perfume amadeirado fixo na tez que vestia seus ombros cãndidos não era ruim. Não era ruim sentir seu corpo aproximando-se ao dela e movimentando-se sutilmente por trás de uma porta entreaberta, narrando, delineando, mais uma vez, o que havia acabado, e acabou." (Carolina Pires)

"Incansáveis e insaciáveis instantes na mesma cama de um colchão duro que fazia que minhas costas alinhasse perfeitamente cada vértebra. Hoje elas doem, e não apenas pelo peso do meu corpo cansado de ser ele mesmo, mas pela falta do peso de tua carcaça fora do prazo de validade sobre minha pele outrora perversa, hoje cândida, casta que só. Fechei os braços (e as pernas) para o mundo, por teimosia e negligência e se O MUNDO quiser adentrar novamente em mim pelos poros, terá que pelejar muito; não quero mais o vago, elusivo. Tentei disfarçar o tamanho enorme que me descobri por detrás das minhas olheiras, com aquela camada densa de maquiagem; apenas mais uma máscara que em poucos instantes diluir-se-ia num choro escuro e homogêneo (puro rímel); diluiu-se de fato." (Carolina Pires)

"Não mandarei mais cartas, embora tenha decorado seu endereço. Mas eu ainda preciso te dar meu último acalento, desta vez em forma de adeus: Todas as minhas linhas eram reais. Quis amar-te até sucumbir, nosso canto com cheiro de café e teu corpo sobre o meu a esgotar-me; eu não mentiria para teus olhos... Eles jamais me perdoariam." (Beatriz Jorge)

Só desejo que 2010 seja totalmente oposto do que foi 2009. Nada mais.