"Confesso que, por vezes, ser forte é difícil. Ser forte significa engolir as lágrimas e fingir que nada me afeta. Significa fingir que sei o que estou a fazer, que já sei tomar conta de mim, que já separei a roupa branca da roupa de cor quando pus a máquina de lavar roupa a funcionar. Mas é tudo mentira. Não está tudo bem.
As datas continuam a ter significados atrelados a elas. Não está tudo bem porque os calendários continuam a acrescentar dias aos anos, anos aos dias, e subitamente as rugas vão criando tempo no rosto. Eu fecho os olhos e tento viajar na máquina do tempo das memórias, mas tudo são fragmentos de uma vida que já não existe, uma pessoa que já não sou, uma vida que já não tenho com pessoas que não me conhecem. E tu não existes, és apenas uma sombra, uma forma de gente cada vez mais difusa, mais distante. Eu fecho mais os olhos e, nada. A tua imagem começa a desaparecer, aos poucos, um pouco por todo o lado. Acho que... É difícil perder aquilo que nunca realmente tive."

Eu nunca desejei que a ausência fosse assim, tão presente.

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