Uma ausência apenas. Ou duas.

Eu foco nos gestos. Na mão que corre pela minha cintura, no jeito distraído que me olha enquanto finjo que não percebo e com os suspiros de quando me aproximo. Porque eu espero algum sinal, com ansiedade, como aqueles que não sabem lidar com o amor, pois eu de fato não sei, apenas por não conhecer, ou ter medo de. Eu sempre fui medrosa. Mas eu quero o verso daquelas antigas mensagens em atitude, e quero agora, por mais que eu esteja atrasada e já esteja por completar um ano, porque meu romantismo, mesmo que frio e calculista, não se cansa da decepção.
Não é amor, eu simplesmente gosto e é essa simplicidade do "gostar" que me toca. Daquelas que eu posso pegar o telefone, dessa vez sem medo, e ligar pra ver se ele topa mais uma daquelas insanidades sem freio e pudor - ele sempre topa, sendo esse o maior problema. É que eu tenho dançado há anos a mesma valsa, enjoando muitas vezes pela quantidade de rodopios, mas eu que sempre gostei dessa coisa sem eixo, acabo voltando.
É esse jeito desajeitado que me prende. E a falta de tato também - não no sentido físico da palavra, se é que me entende. Porque dele eu tenho uma vontade. Duas até. E ele não me hesita nunca. E eu também não, por mais que tente. Mas há alguma coisa que eu não sei explicar o quê, que me faz esquecer todas as promessas e pseudo-princípios e... Carne. É fome.
O fato é que eu tenho existido muito, superado paixões sem medo e quase sem dor - ruim mesmo é me perdoar, pois insistir num "nós" que não é "a gente"... Nunca fomos. Mas eu li cada mensagem - reli N vezes - e guardei nos lugares mais íntimos, porque há carinho - ou havia. E que não se pense que é por ele ser assim, tão esquivo, que desejo tanto. Um dia ele me foi presente, eu é que nunca deixei de ser desastrada e, como já me é de costume, tropecei - fora real, mas havia o tal do medo também, então por ora fora de propósito, mesmo que a dor tenha me resultado em três meses de castigo, daqueles por ordens médicas, sem ter para onde fugir. Porque eu sou daquelas que só percebe o quão era bom, quando perde.
Minha paixão que é descompassada mesmo. O importante é tentar acreditar que eu não me repito mais nas mesmas carências, pois o tempo corre em mim e a ausência me é comum; é a presença que me assusta, que me bagunça e desconserta e eu acabo topando ser protagonista de mais uma loucura, dessa vez, com platéia e coadjuvantes. E é assim, sempre, não acaba nunca - e talvez eu nem queira que acabe. Então eu suspendo minhas doses de ilusão e passo a ingerir diariamente, doses cavalares de realidade sem gelo, cowboy, que me é um tapa na cara pra voltar para cima do salto alto e atuar, como sempre, como nunca, como antes, como agora e depois.

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