Gorfei.

Por mais que as redundantes histórias de romance me encham os olhos de lágrimas, eu nunca fui de toda poesia. Não sou daquelas que gosta de amor à moda antiga, por mais que tente ou pareça ser. Mulheres, ou pelo menos a grande maioria, gostam de sofrer. Eu falo isso, porque sou mulher também. Podemos sonhar com romantismo, cansar da brutalidade masculina diária, mas nunca nos deleitamos no que nos é dado de bandeja. Queremos mesmo é correr atrás, sofrer, chorar, escrever. Bem do tipo "ostra feliz, não faz pérola"; é a mais pura verdade.
Esses dias, mesmo, há pouco apaixonei-me perdidamente pelo que me era extremamente ausente, fora difícil conquistar tamanho zelo, mas ao dar as caras... Tenho fugido igual gato foge d'água, talvez por medo de ser mais feliz do que estou sendo e acabar estragando tudo que já tem dado tão certo. Tenho certeza que a partir do momento em que eu perder todo amor, o coração vai apertar, as mãos vão formigar e eu vou voltar a chorar vendo comercial de margarina. Mulher, não sei. Pode ser mal de virginiana, querer o que não se tem, o que não é fácil, o que nunca seria nosso se não fosse nossa insistente mania de atropelar o tempo.
"Good morning, hypocrite." Hoje eu insistirei no erro, maisumavez. Talvez eu seja deveras estúpida por me sentir assim. Nem mais meus quintanares são capazes de me embalar num sono profundo. A presença tem me batido constantemente à porta e eu preciso ingerir a falta não existente no vácuo entre mim e esse todo-nada que tenho tragado ultimamente.
Entre o hoje e o amanhã, eu quero o agora. Não gosto de esperar. Passei a escutar rock mais pesado, na esperança de que alguma batida acompanhasse meu pensamento irrefreável, toda essa agonia de querer fazer o que não se pode, de querer ter o que não se tem, de querer amar o que não se ama... Desculpa, mas dessa vez, os astros não bateram. O bolo não deu liga, ficou esfarelado; falta uma coisa que não sei bem o que é. Faltou distância, faltou ausência, faltou sonho, faltou que ele me ignorasse o suficiente para que eu corresse atrás. Na verdade faltou a massa inteira. Acho incrível, pois os escorpianos sempre tiveram um sex appeal a exalar, mas aquele "olá" fora feminino demais e eu não sou dessa "moda" de cobra com cobra, aranha com aranha, por mais que já tenha tentado - curiosidade, sabe? - Nada contra, admiro muito quem consegue, assume e enfrenta o mundo preconceituoso, que é o que temos pra hoje; mas eu, simplesmente não consigo.
Incrível, mas acho que depois de levar tanta patata na cara, eu tenho preferido ficar sozinha. Solteira, não, sozinha mesmo. Num momento muito "Me, myself and I", minha vida passou a dar muito mais certo, no sentido profissional, familiar e o que vem de brinde, exceto no sentido amoroso, que tenho dispensado com tanto asco. - Alguém me conserta? Eu não era assim, juro! Meu romantismo sempre foi meloso demais, até - talvez por isso tenha esgotado. Acho que foi a época em que me encontrava no auge da minha ascendência em touro. Hoje, voltei a ser virginiana. Seca, rude, realista, pé-no-chão... Pior que o beijo foi bom, mas eu preferi não olhar nos olhos para não embebedá-lo. O coração não disparou. E eu estou aqui, adiando, custando a me levantar da cama para me arrumar e ver ele novamente.
Depois de 2 anos de infantilidade, 4 meses quase sendo mãe por tabela, 3 meses de possessividade e por fim mais 2 meses insistindo numa pessoa que já havia tentado e mesmo sabendo que não tinha nada a me oferecer, tentei de novo e só recebi das piores indiferenças... Meu amor se esgotou temporariamente e está precisando de um tempo de "solidão" para se "recompor".
Acho que o meu homem ideal tem que ser amigo. Tem que ser parceiro pra encher a cara, ver futebol, falar palavrão, gostar de pornografia, fazer danças bizarras nas baladas que vamos pela obrigação de socializar - na preferência de um bom barzinho. Tem que gostar de rock - de verdade -, de bossa nova, de samba, de chorinho, tem que coçar o saco, cuspir no chão e arrotar em público, para que eu tenha do que reclamar. Tem que gostar de viajar sem roteiro, tem que ser imprevisível, tem que se atrasar nos encontros. Tem que transar, depois virar pro lado e dormir roncando alto. Tem que tomar café de jejum, fumar um cigarro antes de dormir, beber cerveja e gostar de vinho barato. Tem que ter a barba por fazer e usar a primeira roupa que encontrar no armário, gostar de cinema, de filme de terror, mas tem que saber me fazer cafuné e entrelaçar os pés comigo na cama na esperança de que os meus não fiquem gelados, como de costume. Tem que fazer bagunça na casa, não lavar a louça, gostar de gatos e deixar a cueca usada jogada no chão do banheiro. O bafo matinal, seria indispensável. É isso, não falo da boca pra fora, tem que ser assim mesmo. Tem que ter milhões de defeitos que juntos completam uma perfeita harmonia e com isso torna uma relação um tanto quanto divertida e com mil coisas a fazer. Romantismo não tá com nada, mas uma rosa no meu aniversário e nas nossas datas especiais, seria sempre muito bem vinda.

- É isso aí. Precisava desabafar.

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