Os olhos arregalam-me uma insônia irrefreável, escuto a voz arranhada de Joplin de fundo de cabeça e bem me lembro que me devia um texto, um desabafo, apenas-mais-uma-golfada-impensada. Bem me recordo do dia em que após alguns frêmitos e arranhões, desta vez não no teu, mas no meu dorso, na beira de um sofá antigo, tu me amavas e eu me deliciava nas tuas incansáveis paixões de anos atrás só vividas ontem, eu me arrumava descabelada em frente ao espelho e via teu reflexo atrás de mim a olhar-me perdidamente apaixonado no vago amor que não dei. Tenho estado sem estados reais, palpáveis, tenho sido de muitas bocas, de muitos corpos e nada levo disso pra casa, apenas o desgasto, físico&mental. A garganta arranha-me uma dor que não cessará enquanto não falar tudo que engoli sem digerir um trago sequer, antes fossem dos teus cigarros, deverias ter engolido comigo, eu pre-ci-so da minha voz pra daqui algumas horas, então me deixe falar - nunca fui tão dinheirista, é caso de necessidade, a dor no bolso de pagar minhas próprias contas sem ter trabalho algum, então vivo assim, de bicos em bicos e antes fossem os bicos dos seios que não endureceram na tua presença, eu estava ausente, devo confessar. - Foram morenos de boca grossa, da pele branca e suas amantes, morenos da boca grossa, piercings e pele escura, morenos de lábios finos, um bom estilo vistoso como leão e ideologias a irritar-me, e agora um loiro escuro de língua envolvente, pele branca e olhos verdes a hipnotizar-me, consumir-me as entranhas, pulsátil e brilhando feito plânctons enquanto fazem amor, a ocupar certo espaço por cá sem nem me pedir permissão para tal. Dizer que não lembro dos teus afagos, que eles não vêm atormentar-me a cada fria madrugada de inverno - eu sei que passas frio - seria mais uma de minhas próprias mentiras aquelas que tanto me&te enrolaram de amores e suores nada concretos, sem odores. Daqui há alguns meses eu vou embora, um mundo lá fora me aguarda de braços semi-abertos a desprezar-me, mas hei de conquistar meu espaço, custe o que custar, abrirei o outro braço e deleitar-me-ei em um ano e meio de cultura americana, falsas ideologias que de nada me interessam, afinal, eu só quero o bruto, a carne-viva, a experiência de me dar muito mal, crescer para daí sim, aparecer e querer loucamente voltar pra casa, pegar no telefone e seres a primeira pessoa a escutar o meu "estou de volta", eu morrerei de saudades, juro. Mas será essa mesma história que aqui conto, maisumavez, ad infinitum. Sabe ciclo? Então. Vicia, sacia temporariamente, consome, devora, ilude e no final das contas não faz nada bem, nem à assassina-mim, muito menos à vítima-você. Eu de sangue frio e a gente aqui, mastigando essa falta de conexão, sem conseguir digerir nem vomitar esse doce-azedo vivenciados sem as necessárias duas doses de lucidez sem gelo, cowboy. Não deverias, mas me permites a te amar de um jeito indevido e covarde; não posso ter prometer céu se nem direito ao inferno ainda tive, o diabinho tem falado mais alto em meu ombro esquerdo, enquanto o anjo toca harpa no meu ombro direito a deixar-me novamente com sono sem precisar envolver-me e mergulhar nas entrelinhas amélies de meus Caios de cabeceira. Coexistisses anterior à minha consiciência de ti e continuarás vindo enquanto a lua transitar por Áries, mas agora, dizem meus astros, que ela transitará por Gêmeos, por mais que isso me seja contraditório, virginianos-nunca-se-darão-bem-com-geminianos, ainda assim insisto, insistimos, na grandeza de sua altura e na humildade das minhas palavras avessas. Na verdade eu nunca entendi de constelações.